A alfabetização de crianças com deficiência auditiva
Capítulo 3 - Com os pés no cotidiano
Começa o período da tarde. A professora entra na sala. Bagunça. Várias crianças falam ao mesmo tempo. Cadernos voam. Um aluno bate com a carteira no chão. A professora grita: "Vamos fazer silêncio, gente!". Ruidosamente, os alunos tomam seus lugares. No meio da baderna, a professora nota que apenas duas crianças permaneceram sentadas e quietas desde que ela entrou na sala. A professora pede silêncio novamente. Dá uma bronca. Manda que peguem o caderno. Alguém diz "Fessora" e começa a contar um episódio qualquer acontecido em sua casa. Ela se esforça para demonstrar interesse. Faz perguntas. Ao mesmo tempo, outro aluno também quer contar uma história. A professora percebe que ele tem dificuldade para encadear as idéias de seu relato. Ela, meio atordoada, tenta dar atenção a ambos. Olha o relógio. Quase quinze minutos da aula já se foram. Vira-se para a classe e pergunta quem não fez a tarefa. A gritaria é geral: "Eu fiz, eu fiz, eu fiz, fessora". Cadernos surgem de todos os lados. Eles são quase esfregados em seu rosto. "Vê o meu, vê o meu!"
Essa história com certeza se parece muito com as cenas cotidianas de uma sala de aula. A professora percebe que seus alunos exigem que ela atue de formas diversas para atender necessidades diferentes. Essas necessidades afetam a professora, e seus alunos são afetados por sua atuação. E é por isso que nosso olhar precisa estar bidirecionado. Precisamos perceber essa comunicação de mão dupla, entre aluno e professor. Tudo o que acontece com o aluno também nos afeta e vice-versa. É importante ter consciência de que a atuação dos alunos é uma decorrência da nossa própria atuação. Quando esse fato não é percebido, nossa tendência é considerar o espírito baderneiro de uns e o isolamento de outros como algo cuja origem está exclusivamente fora da classe.
A irritação, a impaciência, o desgosto e o estresse são o resultado da não