A alegoria do patrimonio
Monumento e Monumento Histórico
Esta bela e antiga palavra estava, na origem, ligada às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no tempo e no espaço. Requalificada por diversos adjetivos (genético, natural, histórico, etc.) que fizeram dela um conceito ‘nômade’, ela segue hoje uma trajetória diferente e retumbante. Patrimônio histórico. A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos.
A transferência semântica sofrida pela palavra revela a opa cidade da coisa. “O patrimônio histórico e as condutas a ele associadas encontram-se presos em estratos de significados cujas ambiguidades e contradições articulam e desarticulam dois mundos e duas visões de mundo”. Culto ao patrimônio merece questionamento, pois revela a condição da sociedade. A obra tratará do patrimônio histórico representado pelas edificações, desde a década de 1960 não se confunde mais patrimônio histórico com monumento histórico, pois este representa senão parte de uma herança que não para de crescer com a inclusão de novos tipos de bens, o alargamento do quadro cronológico e das áreas geográficas no interior dos quais esses bens se inscrevem (saindo do limite do século XIX e do espaço geográfico europeu). Em primeiro lugar, o que se deve entender por monumento? O sentido original do termo é o do latim monumento, que por sua vez deriva de monere (‘advertir’, ‘lembrar’), aquilo que traz à lembrança alguma coisa. A natureza afetiva do seu propósito é essencial: não se trata de apresentar, de dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva. Nesse sentido primeiro, chamar-se-á monumento tudo o que for edificado por uma