Zenão de eleia e o exercício da filosofia
ATRAVÉS DO PARADOXO: UM ENSAIO ACERCA DA
INTENÇÃO FILOSÓFICA DA DIALÉCTICA ZENÓNICA
ALEXANDRE COSTA'
Muito pouco restou da obra e do pensamento de Zenão de Eleia.
Reconhecem-se como autênticos apenas quatro fragmentos do livro' que teria escrito, três preservados por Simplício e um por Diógenes Laércio.
Além desses fragmentos, e bem mais célebres, conhecemos também os paradoxos que formulou acerca do movimento, preservados sobretudo por
Aristóteles e comentados pelo mesmo Simplício.
Apesar desse restrito acervo, vemos com clareza, quando nos encontramos diante dos seus fragmentos ou quando confrontados com os seus paradoxos, que o seu pensamento inaugurou um modo de pensar absolutamente original. Eles revelam uma filosofia que determina o seu exercício através do paradoxo, uma filosofia que nos conduz, invariavelmente, à aporia. É por intermédio do paradoxo que Zenão demonstra o absurdo e o equívoco de uma determinada posição filosófica, posição esta supostamente contrária à sua. Escondido no paradoxo, o Eleata não mostra o que é, mas o que não é; ou ainda mais do que isso: ele mostra o que não pode ser. E é aqui que encontramos a negatividade do seu método.
Justamente por utilizar um método negativo, Zenão analisa inicialmente a hipótese ou a teoria da qual presumivelmente discorda: tendo a argumentação o destino de cair no abismo do paradoxo, a hipótese tomada a princípio passa a ser considerada absurda e necessariamente falsa.
O paradoxo não é, portanto, propriamente o método, mas o seu ápice.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
É comumente aceite a versão segundo a qual Zenão teria escrito um único livro.
O tema, entretanto, não deixa de ser controverso, como é de costume e de se esperar quando se trata de autores cujas obras se perderam através dos tempos.
Revista Filosófica de Coimbra - n.° 27 (2005)
pp. 205-225
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Alexandre Costa
O método consistiria, primeiramente, na