Yerma
FEDERICO GARCIA LORCA
PERSONAGENS
YERMA
MARIA
VELHA PAGÃ
DOLORES
1 ª LAVADEIRA
2 ª LAVADEIRA
3 ª LAVADEIRA
4 ª LAVADEIRA
5 ª LAVADEIRA
6 ª LAVADEIRA
1 ª RAPARIGA
2 ª RAPARIGA
FÊMEA
1 ª CUNHADA
2 ª CUNHADA
1 ª MULHER
2 ª MULHER
MENINO
JOÃO
VICTOR
MACHO
1 ° HOMEM
2 ° HOMEM
3 ° HOMEM
PRIMEIRO ATO
PRIMEIRO QUADRO
Ao levantar-se o pano, Yerma está adormecida, tendo aos pés uma cestinha de costura. A cena tem uma estranha luz de sonho. Entra um pastor nas pontas dos pés, fitando firmemente Yerma. Leva pela mão um menino vestido de branco. O relógio bate. Quando o pastor entra, a luz é substituída por uma alegre claridade matinal de primavera. Yerma desperta.
CANTO
(Voz dentro) Nana, nana, nana, nana, nana, nana, que faremos uma palhoça no campo e nela nos meteremos.
YERMA
João, não me ouves, João?
JOÃO
Já vou.
YERMA
Está na hora.
JOÃO
Já passaram as juntas?
YERMA
Passaram.
JOÃO
Até logo. (Faz menção de sair.)
YERMA
Não tomas um copo de leite?
JOÃO
Para quê?
YERMA
Trabalhas muito e não tens corpo para tanto trabalho.
JOÃO
O corpo enxuto de carne torna-se forte como o aço.
YERMA
Mas o teu, não. Quando casamos, eras outro. Agora tens a cara branca como se o sol não te batesse nela. Gostaria que fosses ao rio e nadasses, e subisses ao telhado quando a chuva nos entra pela casa adentro. Já estamos casados há vinte e quatro meses e tu cada vez mais triste, mais seco, como se crescesses ao contrário.
JOÃO
Acabaste?
YERMA
(Levantando-se) – Não me leves a mal. Se eu estivesse doente, gostaria que me tratasses. “Minha mulher está doente – vou matar este cordeiro para fazer-lhe um bom ensopado.” “Minha mulher está doente – vou guardar esta enxúndia de galinha para aliviar-lhe o peito; vou levar-lhe esta pele de ovelha para resguardar-lhe