Wall street
Em uma década ela própria viciada em riqueza e ambição, a fábula do diretor Oliver Stone calhou de se encaixar no momento mais relevante possível: foi rodada enquanto a economia mundial estava em um pico vertiginoso, e chegou aos cinemas algumas semanas depois de ela ter se atirado no despenhadeiro – o do crash de outubro de 1987, em que a Bolsa americana caiu mais pontos em um único dia do que em qualquer outro dia da história até então.
Assim, quando o tubarão do mercado financeiro Gordon Gekko, em interpretação icônica de Michael Douglas, dizia na tela que “a ganância é boa”, as plateias ainda aturdidas pelo tumulto geral sentiam na pele, com todas as cargas positivas e negativas de eletricidade, a emoção que ele descrevia: como a ganância fora excitante até 19 de outubro daquele ano, e como passara a parecer insensata e até suicida naquela virada para 1988.
Sorte e presciência trabalharam a favor de Oliver Stone, além da voluptuosidade com que ele filmou a trama sobre o corretor de valores novato, vivido por Charlie Sheen, que se deslumbra com as prestidigitações financeiras de Gekko. Mesmo tudo o que o filme tem de datado – as telas de computador arcaicas, os celulares ridiculamente grandes, os penteados pavorosos e as camisas de colarinho redondo – não consegue, ainda hoje, roubar da urgência que ele transmite.
E esse é o espírito que Stone tenta recuperar em Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps, Estados Unidos, 2010) (…) Surpresa: em grande parte, consegue. Se não completamente, é porque falta a esta continuação aquela sincronia com os acontecimentos; em vez de antecipá-los, como no original, ela busca flagrar em retrospecto, por assim dizer, o fenômeno atordoante que foi a quebradeira de setembro de 2008.
Gordon Gekko, de novo,