VOZES SILENCIADAS: O DISCURSO DAS EXCLUÍDAS PROFESSORAS LEIGAS

VOZES SILENCIADAS: O DISCURSO DAS EXCLUÍDAS PROFESSORAS LEIGAS

Paulo Batista Machado

RESUMO: Os anos 90 testemunharam no nordeste brasileiro, sobretudo na zona rural, um processo de silenciamento que ainda não foi estudado com a importância devida: professoras leigas, ou como afirma Therrien (1993), “lavradoras que ensinam”, que vinham construindo a educação rural, dentro de suas limitações e das limitações do contexto, mas inseridas em seu meio, ou foram demitidas, ou remanejadas para a função de serviços gerais. O discurso produzido por aquelas professoras deixou de ser resgatado e pronunciado, sendo sufocado à medida que os salários se tornaram mais convidativos (com a introdução do FUNDEF), elas foram demitidas em massa, e a escola rural deixou de ser a casa da professora, ou uma sala isolada, ou um espaço possível devido ao sacrifício pessoal daqueles profissionais que recebiam, com atraso de meses, ou mesmo não recebiam, dez reais como pagamento mensal de salário. Pretende-se apresentar as falas dessas professoras, as competências por elas construídas, que foram resgatadas em uma pesquisa de doutorado, no final da década de 90, através de um estudo de Representações Sociais. As então professoras leigas discorrem em torno de categorias como as razões para escolha da profissão e atores intermediários de recrutamento; os desafios dos primeiros anos e as mudanças ocorridas; o lugar dos conteúdos, dos saberes não escolares e a prática docente; pontos de vista sobre a escola rural, os alunos, os pais, os colegas e as condições de funcionamento da escola; os salários; as relações das professoras leigas com o meio rural, e com a comunidade; relações com a Secretaria Municipal de Educação, com os políticos e com o sindicato. Estas vozes que foram sufocadas poderão contribuir para uma avaliação do processo de des-ruralização que ocorre em muitas escolas que oferecem a educação no campo, e para a incorporação de reflexões hoje marginalizadas.