Voluntário Ser ou Não ser - Ética
Heloísa Helvécia, Caderno Sinapse, Folha de S.Paulo
De todas as categorias de trabalhadores, a do voluntário é a que mais vem sendo "promovida" -o que ajuda a explicar a estatística segundo a qual 54% dos jovens brasileiros querem entrar nessa área. Só não sabem por onde começar. De saída, é difícil situar-se em meio à nova realidade do terceiro setor, segmento que cresceu 157% em seis anos, duas vezes mais que o conjunto de empresas do país. São 276 mil organizações sociais atuando em uma quantidade imensa de causas. Na maioria, prestam serviços com o apoio de voluntários -usados às vezes até em atividades-meio, como serviços de escritório. Então, para não correr o risco de virar mão-de-obra escrava, cumprindo tarefas sem objetivo, o interessado precisa se perguntar: ser voluntário para quê?
A antropóloga Leilah Landim, do Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião), explica como essa onda atrai as pessoas: "Por meio de crenças ligadas à solidariedade, o indivíduo procura de forma autônoma um tipo de integração social, ou uma ponte para o mercado de trabalho, ou uma finalidade para a vida. É o voluntário por opção, que se qualifica para isso, que tem nessa ação algo para contar e acrescentar ao seu currículo". Seja qual for o palco de atuação, é bom mesmo ajustar as expectativas, puxadas por todo esse alarde que vem sendo feito por campanhas de governos, empresas e ONGs. Antes de "fazer a diferença na vida de alguém", como dizem os folhetos de convocação, é preciso ter clareza das habilidades que se quer oferecer e conferir se elas combinam com as necessidades de quem vai ser ajudado.
"Não estamos aqui para brincar de conto de fadas", diz Anísia Sukadolnik, 62, diretora do CVSP (Centro de
Voluntariado de São Paulo), entidade que faz a ponte entre candidatos e organizações e capacita os dois lados. "Não é fácil. Tem voluntário que escolhe trabalhar com idoso, chega ao asilo, não gosta do cheiro,
fica