Você disse bizarro? Jacques-Alain Miller
Jacques-Alain Miller
[Conferência realizada na La Maison
Française, New York University, 1999.
Editada por Suzanne Yang.]
1. Sumário.
A psicanálise é indubitavelmente responsável - pelo menos ela foi um sinal premonitório - pelo que eu chamaria de culto da fala - um culto da fala que, após ter surgido sob a forma de fascinação subversiva nos dias posteriores a maio de 68, foi desde então difundida por toda a sociedade, até o ponto de se impor como uma evidente pousse-à-dire, um impulso para falar. Eu sinto na sociedade atual um impulso para falar.
"Nós temos que conversar," alguém prontamente diz diante da dificuldade: é o recurso, o remédio, a panacéia. "Vamos conversar." E escutar, trocar, dialogar, são as forças que se gostaria de acreditar capazes de apaziguar todos os conflitos: social, familiar, individual. [Da audiência: "Você poderia falar no microfone, por favor. Está muito difícil ouvi-lo."] Está muito difícil me ouvir?
[Risos] Estou falando da fala e escuta, assim é melhor escutar. Então, eu disse – está bom assim?
["Sim, está melhor, perfeito."] Então nós gostaríamos de acreditar que escutar, trocar e dialogar podem apaziguar todos os conflitos: social, familiar, individual. É um uso da fala como anestesia - e este uso da fala pode mesmo ser a máxima da democracia.
O "impulso para falar" é realmente outra coisa em psicanálise, eu acredito. Na psicanálise, há o convite para aquele que sofre para o teste daquilo que não é um diálogo, mas antes um monólogo, um monólogo salvo a interpretação. Uma sessão psicanalítica, eu diria, é um monólogo, exceto a interpretação. A Interpretação é um modo especial, e mesmo bizarro, de fala.
2.
Quando escrevi o argumento acima para explicitar o que eu gostaria de dizer, a palavra bizarro brotou automaticamente na minha escrita. Bizarro - a palavra ela mesma pareceu bizarro para mim.
"Bizarro! Você disse bizarro?" Esta é uma réplica famosa. A palavra bizarro é ela mesma