VIVENDO EM UM MUNDO NÃO POLAR
Richard N Haass*
O mundo hoje não está dominado por uma ou várias potências, mas está mais influenciado por dezenas de protagonistas, estatais e não estatais, que exercem diversos tipos de poder. O século 20 primeiro foi dominado por alguns Estados. Em seguida na Guerra Fria, por dois
Estados e, finalmente, ficou sob o predomínio americano nos anos 90.
Agora, o século 21 não é dominado por ninguém. É o que se pode chamar de mundo não-polar.
Três fatores ocasionaram essa não-polaridade. Em primeiro lugar, alguns Estados conquistaram poder à medida que sua influência econômica cresceu. Em segundo lugar, a globalização enfraqueceu o papel dos
Estados, permitindo que outras entidades acumulassem um poder substancial. Em terceiro lugar, a política externa americana acelerou o declínio relativo dos EUA em relação aos outros. Como resultado temos um mundo onde, progressivamente, o poder fica mais distribuído e menos concentrado. A emergência de um mundo não-polar pode acabar sendo algo especialmente negativo, tornando mais difícil gerar respostas coletivas para desafios globais e regionais prementes. O número maior de instâncias decisórias dificulta ainda mais a tomada de decisões. A não-polaridade também faz aumentar as ameaças, em número e em intensidade potencial, dos Estados renegados, grupos terroristas ou milícias.13
Mas, se essa não-polaridade é inevitável, seu caráter não. Muita coisa pode e deve ser feita para moldar esse mundo não-polar. A ordem, porém, não surgirá por si só. Pelo contrário, se deixarmos esse mundo nãopolar agir por sua conta, com o tempo ficará mais desordenado.
Resistir à propagação das armas e materiais nucleares desprotegidos pode ser tão importante quanto qualquer outro tipo de empreendimento. Se o enriquecimento de urânio for administrado internacionalmente e se forem criados bancos para armazenar combustível nuclear queimado, os países poderão ter acesso