Violencia
E CRIME NO
B RASIL DA
REDEMOCRATIZAÇÃO
UM DEBATE DISPERSO violência e crime no Brasil da redemocratização
ALBA ZALUAR Professora de Antropologia do Instituto de Medicina Social da Uerj. Autora de Condomínio do diabo e Cem anos de favela, entre outros
m leitor familiarizado com a literatura internacional a respeito do tema logo percebe que a discussão acerca de “criminalidade e violência”, no Brasil, tomou um rumo muito marcado pela recente história política do país e o papel que nela tiveram os intelectuais que trabalhavam nas universidades e organizações não-governamentais. Torna-se importante, pois, levar em conta a relação entre o campo intelectual e o campo político para entendermos os debates e afirmações reiteradas que ocuparam o pensamento dos que se dedicaram ao assunto. Os últimos 25 anos cobrem um período da história do país marcado por profundas mudanças políticas, sociais e econômicas, das quais os cientistas sociais participaram como pesquisadores e como cidadãos. Eles viviam tais mudanças e sobre elas pensavam dos lugares que ocupavam em suas instituições universitárias, partidos políticos e movimentos sociais, os quais sofreram várias inflexões. Mais recentemente, transformações na articulação entre os dois campos – o intelectual e o político –, com o advento das organizações não-governamentais, tiveram profundo impacto sobre as pesquisas e a literatura produzidas. O debate começa na própria postura do cientista social enquanto um intelectual: se orgânico (A. Gramsci) ou específico (M. Foucault) – quando ligado ao movimento sindical ou alguma outra organização de classe –, se universal – quando exerce sua atividade referido a uma idéia universal e abstrata de justiça. Aquele primeiro tipo de intelectual usaria o seu saber nas “lutas reais, materiais e cotidianas”; estes seriam “portadores de universalidades” inscritas nesses direitos (Almeida, 1990). A alternativa
U
vem revelar curiosos paradoxos,