Vinte anos de crise
O capítulo V (A crítica realista), essencialmente, apresenta os fundamentos da corrente realista, ponderando a divergência entre utopia e realismo na abordagem política e o processo de aversão e reação do último, que entra em cena muito após, em relação ao primeiro. Através de pensadores como Maquiavel, apontado como ponto de partida essencial contra a utopia do pensamento político, Hobbes, Bodin e Spinoza, Carr fundamenta e explicita a noção de filosofia realista e tange a idéia do realismo moderno, dispare do realismo dos séculos XVI E XVII por incorporar, assim como a utopia, o conceito de progresso. Contudo, de acordo com ele, o realismo torna-se, aparentemente, “mais progressistas do que o ideário utópico” (CARR, pg. 71), fazendo-se mais dinâmico e relativista. O autor exibe, ainda, o “mais formidável ataque que a utopia tem de enfrentar” quando, ao citar Bertrand Russel, defende que os realistas demonstraram que as teorias intelectuais e os padrões éticos dos utopistas não são a expressão de princípios absolutos e apriorísticos, mas sim, condicionados pela história, portanto, se mostram conseqüência de interesses e circunstâncias. Revela também a importante realização do realismo moderno de expor não apenas os aspectos determinísticos do processo histórico, mas o caráter relativo e pragmático do próprio pensamento. Por conseguinte, Carr demonstra a fragilidade e desmascara as bases reais abstratas do pensamento utópico ao criticar a doutrina da harmonia de interesses e o conceito de internacionalismo. Em relação à harmonia de interesses, julga-a como “artifício moral engenhoso invocado, com perfeita sinceridade, por grupos privilegiados, para justificar e manter sua posição dominante” (CARR, pg. 83), embora, em seguida, mencione que a supremacia do grupo privilegiado pode ser tão esmagadora que, de certa forma, seus interesses são os interesses da comunidade, já o conceito de internacionalismo é visto como uma