vinicos de morais
Adriana Borges (Mestranda – UFG)
Vinícius de Moraes nem sempre foi músico, e ao adentrar o universo musical carregou consigo a poesia que antes estava restrita apenas aos livros.
Desde o princípio sua obra literária prezou pelo lirismo, ainda que inicialmente esse “eu lírico” estivesse mais amarrado a um universo religioso neo- simbolista, onde o amor estava vinculado ao “espírito” e a mulher em sua dimensão física simbolizava o pecado. As poesias eram construções em torno do que chamavam de “esquemas eternos”, ou seja, do esotérico, o metafísico, o universo em sua imaterialidade, traços herdados de sua educação católica e das influências literárias de autores como Rimbaud, Claudel, Baudelaire e
Augusto Schmidt, o que lhe valeu posteriormente, o título de “inquilino do sublime”, por seu amigo Otto Lara Resende1.
No entanto, a escolha por simplificar sua obra, com o objetivo de
“comunicar-se mais e melhor” é que fez com que Vinícius de Moraes optasse pela música popular, onde sua poesia se tornou uma expressão do cotidiano, o que Alfredo Bosi ao analisar parte de sua obra literária faz referência a uma
“urgência biográfica, onde ocorreu um deslocamento do eixo do poeta lírico por excelência para a intimidade dos afetos e para a vivência erótica”. (BOSI, 1989
p.514)
A aproximação com o cotidiano não resultou em uma perda de lirismo, mas em uma nova construção e expressão do “eu lírico” que foi moldado por uma nova linguagem, um nível estético mais simples, onde o amor é substancial para o poeta. Tratou-se na verdade de um novo jeito de (re) escrever seus versos, onde seu impulso, seu estilo pessoal se sobrepôs ao rigor e a estética da poesia formal, se assim posso classificar. 1 Jornalista e escritor Brasileiro (1922-1992) nascido em Minas Gerais na cidade de São João Del Rei. Trabalhou em importantes jornais como "Diário