Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é um livro com poucos diálogos. Longe de ser um defeito, é uma das suas muitas qualidades. Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais novo, o filho mais velho e Baleia, a cachorrinha, iniciam a história caminhando a pé pelo árido sertão nordestino, tentando encontrar um local com o mínimo de água para viver. Fabiano é um vaqueiro, homem rústico, analfabeto como o resto da família, que não sabe fazer outra coisa a não ser amansar cavalos e bois. Sempre dependente de um patrão, não tem propriedade fixa e cada vez que a seca aperta recomeça sua viagem com a família à procura de novas terras. A dificuldade de expressão que todos eles têm é o que determina a escassez de diálogos. Falam com muxoxos, utilizando expressões que se fazem notar mais pela entonação de voz do que pelo conteúdo. A narrativa, porém, é fluente e capta o que cada um tem por dentro, seus anseios, medos, esperanças, frustrações. Isso faz com que o leitor se atenha muito mais ao interior do que ao exterior dos personagens. A força maior está justamente na cachorra Baleia que melhor exprime os sentimentos humanos, de uma forma direta, objetiva e pragmática. Quando a família perambula a esmo pelo chão seco da caatinga na esperança de encontrar um porto seguro ou o próprio aniquilamento é ela quem escarafuncha cada cantinho de vegetação e encontra um preá, cuja carne alimenta-os e lhes permite continuar a viagem. Encontram um lugar com o mínimo de sustento e ali ficam. Durante a invernada Fabiano consegue moradia e trabalho com um fazendeiro local. Essa melhoria, no entanto, não vai além da subsistência. Cada um dos personagens tem seus sonhos e decepções, todos muito limitados. Sinhá Vitória sonha com uma cama descente, Fabiano em poder ter sua própria terra e criação para não sofrer com as espertezas dos patrões que nunca lhe pagam o que ele desconfia que mereça, os filhos querem conhecer melhor as palavras ou simplesmente ser um vaqueiro como seu pai. Baleia é a única que