Vida Religiosa
Élio Gasda sj.
... Não esperávamos que isso fosse acontecer... conosco (Lc 24, 13-24).
Logo após o Concílio Vaticano II, a vida religiosa desempenhou um papel importante no espaço eclesial e, em menor proporção, no espaço sociopolítico brasileiro e latino-americano. Nos últimos 15 ou 20 anos, porém, a identidade da vida religiosa vem sendo interpelada, seja pelas mudanças institucionais e eclesiais, seja pelas mudanças socioculturais. A alteração em seu dinamismo e seu vanguardismo e carisma profético-testemunhal é constatada por seus próprios membros: O que poderia ter acontecido conosco?
É verdade que tempos de mudança (ou mudança de época) questionam aquelas instituições com identidades mais solidificadas, histórica, eclesial e socialmente. Mas é justamente sua identidade - grande questão de fundo – que impede que a VR busque no comodismo e na mera adaptação aos tempos e ao “novo” as soluções para seus impasses e crises. Seu critério primordial é sua identidade. É importante situar este momento de encontro com as crises a partir dessa dimensão.
Desesperanças, desilusões, lutos, perdas: Isso não poderia ter acontecido conosco! Coloquemo-nos frente a frente com as crises – Encaremos as crises, deixemo-nos provocar por elas. Deixemo-nos questionar por elas. Queremos compreender as interpelações implícitas em cada uma. Por quê? Porque as crises dizem muito sobre nós mesmos, sobre nossa situação, nossas opções e eleições. Elas são uma espécie de termômetro. Verificam nossa temperatura, se o calor do nosso corpo está próximo ou distante do ideal. Medem nosso grau de distanciamento da temperatura ideal – nosso projeto de vida, nosso núcleo identitário deste corpo que é a VRC.
A história da vida religiosa está permeada de crises – sinal de que está viva e que sobrevive a elas. Por isso, as crises devem ser encaradas dentro de seu contexto. Muitas crises vividas na Igreja e na sociedade