Vergílio ferreira
A autora introduz-nos o «romance-ensaio (…) com uma forte dimensão lírica» (LIMA, 2005: 174) apontando para uma dualidade constante a que se refere como um «emaranhado de duplos» que emergem em diferentes ângulos consoante as personagens e acção que se desenrola, remetendo-nos para a problemática existencial ficcionada em Vergílio Ferreira. Trata ainda a questão da situação literária da obra do escritor entre o Modernismo e o Pós-Modernismo circunstância debatida no texto à luz das características das duas correntes perceptíveis em Na tua face, o livro recenseado.
Todo o romance, diz-nos Isabel Pires de Lima, se constrói em redor de um jogo de espelhos em que se colocam as personagens da narrativa, o próprio narrador e o tempo e espaço da acção. Daniel, que é Dani, médico, caricaturista e aprendiz na arte da pintura divide a vida entre a mulher Ângela, de quem tem dois filhos Luzia (Luz) e Lucrécio ou Luc, e as memórias da amada Bárbara. Esta duplicidade estende-se ao narrador, que é intrinsecamente duplo: uma presença autodiegética que narra e é simultânea e alternadamente personagem. Também a acção se desenrola em “saltos” temporais e espaciais. Há, portanto, duas dimensões do real, das personagens e do narrador.
A partir de um se criam, por projecção, “duplos”. A narrativa faz-se através desta alternância de dimensões entre o eu e o duplo, uma realidade e outra que acabam por se interpenetrar. A utilização desta interpolação de espelhos e reflexos na construção das personagens e de toda a narrativa vai contribuir para um processo identificativo. Aliás, o próprio conceito de duplo se estabelece como «alguém que se procura a si mesmo através da identificação com outra pessoa, de tal forma que fica em