VER E SER VISTO
SOCIOLOGIAS
INTERFACE
Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 34, set./dez. 2013, p. 246-277
Ver e ser visto.
O poder do olhar e o olhar de volta1
Peter Anton Zoettl*
Resumo
Observações feitas durante uma oficina de vídeo participativo num bairro de imigrantes em Lisboa servem como ponto de partida para uma reflexão antropológico-visual sobre o “poder do olhar”. O olhar das instituições do estado e dos agentes do poder, tanto do estado como da sociedade (como, por exemplo, dos media), refletem relações de poder e consolidam-nas. Os habitantes dos bairros desprivilegiados da periferia são o objeto de um olhar que os constitui na sua alteridade, e por meio do qual são apresentados, na sua “marginalidade imagética”, à sociedade portuguesa como um todo. “Exibir”, “ocultar” e “vigiar” são identificadas como formas “poderosas” de lidar com questões da visibilidade pública, e como elementos de uma “gramática” e ordem sócio-espacial do olhar, vigente nos centros urbanos do país.
Palavras-chave: Visibilidade. Marginalidade. Portugal. Imigração. Drogas
1
Investigação financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia - FCT (bolsa de pósdoutoramento). Tradução do original alemão por Susana Silva Leite; revisão por Ricardo
Campos.
*
Instituto Universitário de Lisboa, Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIAIUL), Lisboa, Portugal.
SOCIOLOGIAS
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Sociologias, Porto Alegre, ano 15, no 34, set./dez. 2013, p. 246-277
See and be seen. The power of the gaze and the returned gaze
Abstract
Observations during a participatory video workshop conducted by the author within an immigrant community located in the outskirts of Lisbon are the starting point for anthropological reflections on the “power of the gaze”. The gaze of state institutions and of agents of power (as the media, for instance) both reflects and crystallizes power relations. Residents of the underprivileged neighborhoods in the periphery of