Velho_Um Antropologo na cidade

7476 palavras 30 páginas
Apresentação

por Hermano Vianna, Karina Kuschnir e Celso Castro

“Entre um self fixo e imutável, por detrás das aparências, e uma plasticidade total, procuro captar o jogo da permanência e da mudança.”
Gilberto Velho, Projeto e metamorfose

Gilberto Velho (1945-2012) teve uma das trajetórias mais férteis das ciências sociais no Brasil e conferiu projeção internacional à antropologia urbana brasileira. Deu início a uma tradição intelectual que trouxe a perspectiva antropológica para o estudo da cidade, e para a própria sociedade do observador, com todas as suas complexidades. Mas não ficou limitado à tradição canônica da antropologia. Buscou incorporar, através de um diálogo respeitoso e frutífero com outras disciplinas, contribuições da sociologia, da história e da psicologia, além de ter seus trabalhos marcados pelo interesse em literatura, filosofia e artes. Com livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, foi, além disso, um intelectual público que atuou em diversas associações acadêmicas e instâncias científicas e que sempre procurou se expressar de forma clara através da imprensa, a fim de transmitir, para um público mais amplo e não especializado, a maneira como via os mais variados fenômenos sociais.
Para homenageá-lo reunimos aqui capítulos fundamentais de diversos livros seus, alguns de difícil acesso hoje, e uma entrevista que revelam dimensões importantes da obra que deixou e de sua visão sobre a antropologia, a sociedade brasileira e a produção e divulgação do conhecimento. Escolhemos começar esta coletânea pela introdução e a conclusão do primeiro livro de Gilberto
Velho, A utopia urbana.¹ Pioneiro e marco fundador da antropologia urbana no Brasil, resultado de sua dissertação de mestrado sobre aquilo que nomeou de utopia urbana, nesse título Gilberto já apresenta vários elementos que irá retomar e aperfeiçoar no futuro. Em seu percurso acadêmico, sempre procurou transformar a própria experiência cotidiana em objeto de

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