VEJA 2437 15 18 19 ED
STEPHANIE SACHS FEDER
O fracasso faz bem às crianças
A ex-reitora de Stanford diz que o overparenting, a obsessão dos pais de guiar e proteger seus flhos, criou uma geração de “adultos-crianças” despreparados para o mundo o início dos anos 2000, então reitora da Universidade Stanford, Julie Lythcott-Haims começou a notar algo curioso no comportamento de seus alunos. Estudantes de 20 e poucos anos, que em breve estariam formados e trabalhando nas melhores empresas, compareciam à sua sala invariavelmente acompanhados do pai ou da mãe. E, quando ela lhes perguntava o que queriam de seu futuro, olhavam para os pais em busca de uma resposta. Foi a partir dessa experiência — e da sua própria, como mãe — que ela passou a estudar o overparenting, expressão americana para o hábito de proteger excessivamente os flhos. O fenômeno surgiu quando a geração do pós-guerra, tratada com rigidez pelos pais, mas infuenciada pela contracultura dos anos
60 e 70, decidiu criar suas crianças de forma diferente — menos rigor e mais amor, menos cobranças e mais compreensão. Os exageros na aplicação da fórmula, argumenta ela, ajudaram a produzir uma geração de adultos incapazes de decidir por conta própria e com difculdades de se adequar ao mercado de trabalho. Julie
Lythcott-Haims deu a seguinte entrevista a VEJA, por telefone.
N
Mas adultos também pedem orientações e conselhos. A diferença é a frequência com que os adultos-crianças
trabalho deixar esse cargo um dia. E que o objetivo é criar aquela pequena pessoa para que ela seja capaz de se cuidar”
KRISTINA VETTER
A senhora afrma que esta é a primeira geração de “adultos-crianças” da história. Como eles são? Trata-se de pessoas que não se sentem capazes de tomar as próprias decisões nem de lidar com contratempos e decepções.
Ao primeiro sinal de problemas, pegam o telefone ou teclam para os pais para pedir orientação. Ora, um adulto é, por defnição, alguém capaz de refetir e descobrir como lidar com