Vandalismo - 2 VISÕES
O mito do protesto pacífico
Não há transformação sem quebra-pau
Acompanhando a repercussão do quebra-pau da polícia para cima dos estudantes que rolou nessa semana em Goiânia, estou embasbacado com a quantidade de senso comum que ando ouvindo. Em todo canto escuto que “a manifestação é válida, mas a baderna não”; “o protesto é legítimo, mas vandalismo não”; “os estudantes estão certos, mas perderam a razão”. Na boa, em que mundo essa gente vive?Na verdade, não se trata de mundo, se trata do Brasil. Somos mestres na arte da conciliação do inconciliável. Está em nossa tradição, está tatuado em nosso DNA. Queremos sempre acender uma vela para Deus e outra para o diabo. Na frente das câmeras, somos moralistas e defensores da família. Quando as luzes apagam, fazemos aquilo que é impublicável. Calcado nesse comportamento dúbio, criamos expressões que beiram o ridículo. Os exemplos são fartos. Crítica construtiva. Manifestação ordeira. Protesto pacífico.Fazer uma crítica nunca pode ser construtivo. Se for para construir, é elogio, nunca crítica. Crítica é para colocar em crise, fazer você perder o chão, nocautear e, a partir daí, quem sabe, colocar o indivíduo em outro caminho.Manifestação ordeira é um contra senso tão grande quanto torcedor do Vila Nova esmeraldino. Não existe. Se é manifestação, existe justamente para questionar a ordem, colocá-la em xeque, subvertê-la. Não é para respeitar o status quo, é para desafiá-lo.Protesto pacífico está nessa linhagem de paradoxos. Se acontece, das duas uma: ou não é protesto, ou não vai resolver nada. Para um protesto pacífico, a resolução das autoridades para o pleito popular será sempre a criação de uma comissão proteladora que não resolverá patavina. Desculpe dizer a verdade inconveniente em um belo feriado.Observe a história. As grandes transformações sempre foram depois de muita porrada para tudo quanto é lado. Patrimônio destruído e vidas perdidas são os lamentáveis efeitos colaterais das transformações