Umberto Eco
A INTERPRETAÇÃO ENQUANTO PROCESSO DE OSMOSE:
ESTÉTICA E TEORIA EM UMBERTO ECO E STANLEY FISH
José António C. Baptista (1)
Ao Francisco e à Diana
Resumo: Este artigo visa demonstrar a forma como as teorias da interpretação propostas por Umberto Eco e Stanley Fish, ao apoiarem-se, implicitamente, numa noção como a de
“intersubjectividade”, acabam por se achar instaladas no âmbito do processo de osmose que, a partir de uma noção originária de theoria e, sobretudo, com a irrupção dos pressupostos estéticos elaborados por Kant, nunca deixou de subjazer ao acto de delimitação dos topoi da Estética e da Teoria.
Palavras-chave: Intersubjectividade, Interpretação, Estética, Teoria
Abstract: This article aims to demonstrate how the interpretative theories proposed by
Umberto Eco and Stanley Fish are related to the concept of “intersubjectivity”. From an original conception of theoria, and principally by means of the Kantian aesthetic assumptions, this confirms the way “intersubjectivity” has always installed Aesthetics and
Theory within the bounds of a problematic osmotic process.
Keywords: Intersubjectivity, Interpretation, Aesthetics, Theory
INTRODUÇÃO
Na obra Zur Phämenologie der Intersubjektivität, Edmund Husserl envida o esforço das suas reflexões em torno da seguinte investigação: é necessário analisar o modo como os feitos concretizados, pelo homem, no domínio da arte evidenciam a unidade entre a vida da consciência daquele que produz determinada obra ou conhecimento e a de todos os outros que, embora no papel de receptores, coexistem com esse indivíduo naquilo que surge designado de “intropia” da comunidade (2). Não se sabe ao certo de onde Husserl terá resgatado este termo aparentemente esquivo a familiaridades. António Amaro Monteiro (1987, pp. 10-50) indicia como possíveis influências os nomes de Theodor Lipps e Alexius Meinong. Certo é que em Husserl
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esse termo se relaciona, ao nível da construção da