Uma nota sobre as boas maneiras em concertos
A etiqueta é uma conquista da civilização. Ideal de pessoa bem educada.
Entende-se por etiqueta como um importante elemento de formação individual, capaz de disciplinar as atitudes de cada pessoa em relação ao próximo.
O comportamento do público nos concertos de música clássica é um assunto de constante discussão. Os ataques de tosse, aplausos fora de hora, o toque dos celulares ou as conversas paralelas podem ser alvo dos olhares mais recriminatórios. Mas antigamente não era bem assim...
Nem sempre as pessoas escutaram os concertos quietas. Pelos relatos da época, surpreendemo-nos com os hábitos indelicados do público da ópera até o século XVIII: barulhento, conversador, mais interessado na social do que propriamente no que se passava no palco – famosas jogadas de xadrez foram criadas em camarotes. Em suma, um quadro similar à cena do teatro de vaudeville em Amadeus. Com a aproximação do século XIX isso mudou e cá ficamos silenciosos e ofendidos quando alguém fica agitado em seu lugar. A tese mais conhecida acerca dessa mudança diz respeito ao processo civilizador, segundo a qual teria ocorrido um 'polimento' – ou melhor, um disciplinamento – de nossas maneiras em sociedade. Basicamente, enquanto o limite da vergonha diminuía, a pressão pelo autocontrole individual aumentava e, sendo assim, foi surgindo o conjunto de normas para cada evento social – a etiqueta.
Desse modo, começou a pegar mal admitir os excessos da multidão, e a Comédie Française, em 1782, por exemplo, decidiu instalar bancos na plateia para ver se fazia o público se comportar. Tal decisão gerou polêmica e a imprensa do momento protestou enfaticamente contra esse “atentado à liberdade de ir e vir da plateia”. Conjuntamente ao hábito de simplesmente prestarem atenção na música, os espectadores foram, aos poucos, apreendendo a respeitar uma execução musical como quem assiste a uma missa. Logo, a música ganhou progressivamente um respeito de