Uma leitura do Ser heideggeriano à luz de “A morte de Ivan Ilitch de Leon Tolstoi”
O propósito desse trabalho é reler a história do personagem Ivan Ilitch a partir da noção do Ser heidegeriano. Muito além da simples saga de um personagem do século XVIII que se envolve socialmente nos compromissos e vaidades de seu tempo, Tolstoi, ao nosso entender, expõe sobrepostamente no romance, evidentes semelhanças com o filosofo alemão, no tocante à compreensão do Ser. Se de acordo com Heidegger “A linguagem é a casa do Ser. Em sua habitação mora o homem. Os pensadores e poetas lhe servem de vigias”1, atentaremos especialmente para a maneira como Tolstoi utiliza através do seu personagem o recurso da linguagem afim de que Ivan Ilitch possa reconciliar-se consigo mesmo, entendendo que sua vida não passa de um esquecimento de si. Ivan Ilitch ao ser conduzido pelo pensamento-linguagem possibilitará a si mesmo a plenificação do Ser que será, por fim, trazido à fala.
Não desejamos nesse trabalho comprovar a consciência do escritor russo a esse respeito, pois nosso anseio não é psicologizar esse ensaio. Queremos apenas aprofundar o entendimento sobre o romance a partir de uma perspectiva dentre as muitas possíveis. Acreditamos que ao buscarmos o aprofundamento do entendimento sobre a obra literária vislumbrando nela a possibilidade da extensão de sua leitura, consideraremos ser possível viver um deslocamento existencial próprio àquele que envereda por esses caminhos.
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O livro “A morte de Ivan Ilitch” nos leva a perceber que o processo da essencialização do Ser é latente no personagem desde o início do romance. No entanto, embora o elemento essencial fosse inerente à Ilitch, o processo de desvelamento ocorreu de forma silenciosa e gradual. No começo da história o personagem dedicava suas ações e atitudes exclusivamente às suas realizações sociais e profissionais, descuidando-se por completo de si como pessoa. Suas atenções estavam voltadas para ascensão