“Uma criança é espancada” e “édipo”: do objeto “a” ao falo
Taciana de Melo Mafra
“Uma Criança é Espancada” é um texto de 1919 que recorta e amplia as construções de Freud sobre uma de suas mais obstinadas questões: “O que é um pai?”. Nesse texto uma minuciosa análise de incursão clínica conduz à questão do masoquismo e do sadismo na perspectiva das articulações sobre a perversão. Situemos, a caminho do que vamos articular neste deflúvio, a apresentação feita por Freud, para nos aproximarmos das elaborações tecidas neste trabalho, que constituirá a mina de uma verdadeira gama de conceitos. Freud, diante da frequência em sua clínica da fantasia: “Uma Criança é Espancada”, constata sentimentos de prazer produzidos numa localização temporal, que se efetiva em grande parte num tempo remoto e, em alguns casos, no tempo em que é relatada na análise. Essas fantasias desencadeiam um grau de excitação tal que produzem atos masturbatórios a princípio voluntários e posteriormente obsessivos, por seu caráter involuntário. O aparecimento dessa fantasia é recordado com incertezas, confessado com hesitação e acompanhado de vergonha e sentimento de culpa. É provável que as primeiras fantasias dessa natureza se estabeleçam muito cedo, antes da idade escolar e jamais depois do quinto ano de vida. No entanto, encontram espaço para serem reeditadas diante da experiência de observar o espancamento de outras crianças pelo professor, já na idade escolar. Desse momento em diante "um número indefinido de crianças eram espancadas". Porquanto em séries mais adiantadas da escola não mais houvesse o espancamento, as estórias e as fábulas passavam a substituí-lo. Há, a partir de então, uma concorrência das crianças com estas fábulas, produzindo-se assim uma riqueza de situações onde crianças eram espancadas, punidas e disciplinadas por seus delitos. O prazer que "uma criança é espancada" causava e que tinha como descarga um ato de satisfação autoerótica, altera-se no entanto, à visão de