Um olhar para a Estética da fome
O cinema como arte possui suas convenções, suas peculiaridades. Estas foram frutos de muitos experimentos nos primórdios da sétima arte. Mesmo a linguagem clássica Hollywoodiana sofreu mutações, não sendo tão formulaica como parece. O grande questionamento que se pendura é se, o cinema, como meio, é um lugar onde contamos histórias fragmentadas ou é algo diferente disso. O narrador deve ser uma figura neutra, deixando o espectador ter a função de fruir o que ele vê, ou ele deve tomar um lado e levar o espectador a uma fruição desejada? Seria o cinema novo de Glauber uma alternativa para um país de terceiro mundo poder produzir cinema, ou apenas uma maneira de remediar uma falta de preocupação com a linguagem cinematográfica?
A definição da proposta do cinema é ambígua, cabe a nós pensarmos na sua definição. Glauber além de ter feito cinema, pensou cinema. Não apenas como uma arte, mas como um expoente de uma nação. Se a nação se torna parte da proposta do cinema, então é nela que se pendura os conflitos e expressões de uma determinada cultura. Nas raízes do cinema novo, se vê o revisionismo de uma prática cinematográfica brasileira. Fora do convencionalismo Hollywoodiano, fora da estética limpa e irreal, um cinema mais fidedigno, mais sincero.
Em seu manifesto, “Uma Estética da Fome”, Glauber define o cinema novo como a antítese da arte civilizada1. O colonizado só será visto pelo colonizador, quando levantar as armas e aterrorizar o seu senhor. É nesta linha de pensamento agressiva que Glauber trabalha o elemento de consolidação de um cinema. A passividade é substituída pelo grotesco, banal. Mas uma banalização consciente. Se nesta existe a subversão, é trabalhando a sua frente marxista que Glauber impõe uma discussão não apenas ética, mas ideológica.
“Uma estética da violência antes de ser primitiva é revolucionária, eis aí o ponto inicial para que o colonizador compreenda a existência do colonizado; somente