Um olhar apenas
Viviane Scherer Fetzer*
A brisa soprava suave naquela tarde. O calor do sol, apesar de intenso, não deixava o desânimo bater. Início de primavera. Ideal para uma caminhada. Esse era o único problema naquele dia: sair de casa depois de tudo.
Realmente, sair do quarto onde todas as fotos, os presentes, o perfume ainda eram recentes em cada canto que o olhar alcançasse. Conseguir desligar-se da lembrança de seu primeiro amor seria muito difícil.
Marília, jovem com uma beleza simples, delicada, com seus cabelos cacheados, de fazer inveja a muitas pessoas, seus olhos castanhos, que traziam consigo um olhar verdadeiro, puro, era como tantas outras que encontramos no dia-a-dia. Filha única de um casal dono de uma loja tradicional no ramo de confecções da cidade, conhecidos e admirados por sua maneira de viver e conviver com todos. Estudante dedicada, muitos amigos, sempre disposta a colaborar e participar de atividades extras em sua cidade, admirada por muitas pessoas. Uma em especial.
Como Marília, Iury, jovem da mesma idade dela, alto, cabelos e olhos castanhos, com um olhar atento a tudo e a todos, era dedicado às mesmas causas que ela. Gostava de participar ativamente em tudo o que podia em seu tempo livre e se necessário fosse, até viajar e deixar suas atividades de aula para resolver algum problema. Dizia sempre que depois resolveria os problemas seus que eram simples, primeiro deveria resolver os dos outros, mais difíceis.
Trabalhavam juntos aqui, estudavam juntos ali, iam para as festas lá e, conversa aqui, conversa lá, o sentimento apareceu entre os dois.
Todos ficaram felizes, afinal, o casal era muito bonito. Não pela beleza, mas pelas atitudes. Quando um pensava em algo a melhorar, o outro já estava planejando e agindo. Um completava o outro. E assim continuou durante alguns anos, até que, fatos estranhos começaram a acontecer.
Marília percebeu que algo não estava mais como antes. Pensamentos não se completavam, projetos ficavam