um discurso sobre ciencia
Jean Jacques Rousseau, em 1749, a caminho de Vincennes onde ia visitar o seu amigo Diderot, então na prisão por ter violado as regras da censura, leu no Mercure de France o anúncio dum prêmio da Academia de Dijon a ser concedido a um ensaio sobre o tema: Tem o progresso das artes e das ciências contribuído para a purificação ou para a corrupção da moralidade?. Teve então a sua epifânia, uma iluminação, como revela numa carta a Males herbes, uma revelação perturbadora com palpitações, lágrimas e tudo, lágrimas mobilizadas facilmente por esse amador de confissões.
E num vibrante ensaio culpou as artes e ciências por corromperem a moralidade e tudo na vida. Como se sabe, ganhou o prêmio com um ensaio intitulado Discurso sobre as Ciências e as Artes onde mostrava que todos os males do homem eram produzidos por uma sociedade baseada nas artes e na ciência.
Este é o mesmo Rousseau que na sua pregação da ignorância, se comparava a Sócrates — esperando certamente merecer o mesmo destino — que, aliás, não creio que louvasse a ignorância antes dizendo que não a podíamos corrigir muito, o que é coisa diferente.
Segundo o relato de Boa Ventura de Sousa Santos (1996, p. 7):
Rousseau fez as seguintes perguntas... há alguma relação entre a ciência e a virtude? Há alguma razão de peso para substituirmos o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida, e que partilhamos com os homens e mulheres da nossa sociedade, pelo conhecimento científico produzido por poucos e inacessível à maioria? Contribuirá a ciência para diminuir o fosso recente na nossa sociedade entre o que se é e o que se aparenta ser, o saber dizer e o saber fazer, entre a teoria e prática? Perguntas simples a que Rousseau responde, de modo igualmente simples, com um redondo não [...]
Uma pergunta elementar é uma pergunta que atinge o magma mais profundo da nossa perplexidade intelectual e coletiva com a transparência técnica de uma fisga. Foram assim as perguntas de