Um Dilema Plat Nico A Justi A E A Poesia Na Rep Blica

Um dilema platônico: a justiça e a poesia na República.

A República de Platão oferece a seus leitores, sejam estes iniciantes aos diálogos platônicos ou estudiosos experientes, várias questões interessantes e intrigantes, dignas de páginas e páginas de reflexão. Uma destas célebres é a relação de Sócrates com a poesia e a consequente expulsão da mesma da cidade ideal que é criada por meio do discurso entre o filosofo1 e seus interlocutores. Uma chave para se entender o porque disso é observar que a República é menos um tratado político que uma teorização da justiça e, em última estância, um tratado de educação que propõe toda uma reformulação do sistema educacional da época calcado nos princípios da filosofia moral. A poesia é vista por Sócrates da forma mais negativa possível, na constituição da cidade hipotética, que seria a materialização da justiça. Depois da cena inicial que ancora os personagens com suas características importantíssimas2 para a compreensão da discussão e o lugar3 onde diálogo se seguirá, a justiça aparece na expressão de temor de Céfalo (330d-331c) que por se considerar mais próximo da morte começa a se preocupar com o que lhe espera no Hades ponderando atos justos e injustos. Levantada a dúvida, a discussão se instaura e, exatamente aí, Céfalo abandona a conversa (331d) e deixa Polemarco como “herdeiro”4 desta que perdura até 336c quando Trasímaco violentamente toma a palavra indignado com o andamento dos silogismos do filósofo. Este, um sofista, permanece como interlocutor de Sócrates até o final do livro I. Nestas etapas, a discussão do que é ou não justo passa necessariamente pela definição da justiça – o que não é atingido, dado que o livro I termina em aporia:
(…) Sendo assim, nada sei, e isso foi o que resultou de nosso diálogo. Se não sei o que é a justiça, dificilmente saberei se ela é uma virtude ou não e se quem a tem não é ou é feliz...
(345c)
Já o livro II é aberto com a proposta feita por Gláucon: que Sócrates os