um amor para recordar
Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre... E recordando aquela existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela!
— Ah! — fez Luísa de repente, toda admirada para o jornal, sorrindo.
— Que é?
— É o primo Basílio que chega! — E leu alto, logo:
— "Deve chegar por estes dias a Lisboa, vindo de Bordéus, o Sr. Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade. Sua Excelência que, como é sabido, tinha partido para o Brasil, onde se diz reconstituíra a sua fortuna com um honrado trabalho, anda viajando pela Europa desde o começo do ano passado. A sua volta à capital é um verdadeiro júbilo para os amigos de Sua Excelência que são numerosos."
— E são! — disse Luísa, muito convencida.
— Estimo, coitado! — fez Jorge, fumando, anediando a barba com a palma da mão. — E vem com fortuna, hem?
— Parece.
Olhou os anúncios, bebeu um gole de chá, levantou-se, foi abrir uma das portadas da janela.
— Oh! Jorge, que calor que lá vai fora, Santo Deus! — Batia as pálpebras sob a radiação da luz crua e branca.
A sala, nas traseiras da casa, dava para um terreno vago, cercado de um tabuado baixo, cheio de ervas altas e de uma vegetação de acaso; aqui, ali, naquela verdura crestada do verão, largas pedras faiscavam, batidas do sol perpendicular; e uma velha figueira brava, isolada no meio do terreno, estendia a sua grossa folhagem imóvel, que, na brancura da luz, tinha os tons escuros do bronze. Para além eram as traseiras de outras casas, com varandas, roupas secando em canas, muros brancos de quintais, árvores esguias. Uma vaga poeira embaciava, tornava espesso o ar luminoso.
Caem os pássaros! — disse ela cerrando a janela. — Olha tu pelo Alentejo, agora!
Veio encostar-se à voltaire de Jorge, passou-lhe