ulhoa
FÁ BIO ULHOA COELHO
Professor da PUC - São Paulo
5ª. edição, revista e atualizada 2004
Editora Saraiv a
PARA UMA I DÉIA GERAL DA LÓGICA
1. LÓGICA E REALIDADE
Na Antigüidade, viveu um homem de nome Zenão, nascido em Eléia. Os registros disponíveis da narrativa de sua morte fazem crer que ele foi um homem dotado de grande força moral. Tendo participado da organização de uma conspiração contra um tirano, foi capturado e submetido a tortura em praça pública, para que delatasse os seus companheiros de insurreição. Como não o fez, acabou sendo morto. Mas o espetáculo de sua tortura, montado para atemorizar os inimigos do tirano, produziu o efeito inverso.
Segundo as crônicas, a extraordinária lealdade e força demonstrada por Zenão, perante a violência brutal que sofria, teriam despertado na população a consciência da necessidade de se libertar do tirano, seguindose, então, a sua deposição.
Zenão era filósofo, discípulo de Parmênides. Isso significa que ele acreditava na idéia de que a razão, e não os sentidos, tem acesso à verdade. Os homens podem se assegurar do que conhecem de certa realidade, não pelo que vêem, escutam ou cheiram nela, mas em função do que pensam dela. Na questão básica tomada pela filosofia daquela época — a identificação da essência do ser —, Parmênides afirma a eternidade, imutabiliade, indivisibilidade, homogeneidade, plenitude e continuidade do ser. Os sentidos apreendem as coisas em permanente evolução, mudança, mas nisso não reside a verdade, porque somente a razão é capaz de captar a essência imutável do ser.
Essas idéias não eram compartilhadas por todos os filósofos da Antigüidade. Heráclito, por exemplo, afirmava exatamente o inverso, ou seja, a multiplicidade e variedade do real são a sua essência e não uma simples aparência.
Na discussão filosófica entre os adeptos de um e de outro enfoque, Zenão de Eléia construiu argumentos que procuravam demonstrar a insubsistência das idéias