UFABC
A origem dos seres vivos intriga o homem desde que o fenômeno vida ganhou, no século 19, uma ciência inteiramente dedicada a ele, a biologia. O estudo dessa questão baseou-se, por muito tempo, na idéia de que a vida teria surgido a partir de ‘moléculas precursoras’, sejam elas proteínas ou ácidos nucléicos (DNA/RNA). No final do século passado, porém, um novo modelo mudou o foco do problema – de ‘como a vida apareceu’ para ‘como a vida funciona’ –, levando a novas perguntas, que inspiram pesquisas com resultados instigantes.
Luiz Antônio Botelho Andrade
Departamento de Imunobiologia,
Universidade Federal Fluminense
Edson Pereira da Silva
Departamento de Biologia Marinha,
Universidade Federal Fluminense
16 • C I Ê N C I A H O J E • v o l . 3 2 • n º 1 91
O que
A vida constitui apenas uma parte ínfima do universo conhecido, habitando uma fina camada de um planeta marginal. A singularidade do fenômeno, porém, é perturbadora. A vida faz parte dos chamados ‘sistemas complexos’, para os quais o tempo é irreversível e construtivo – ou seja, pode-se reconstruir a história da evolução dos seres vivos e da própria vida, mas é impossível definir sua trajetória futura.
A vida é ainda um sistema altamente organizado, em contraste com um universo que sempre tende ao aumento da desordem (entropia), como afirma a segunda lei da termodinâmica. A contradição, porém, é apenas aparente. O aumento da organização do mundo vivo é local: diz respeito só aos seres vivos e não a todo o universo. Assim, tais seres absorvem do meio a energia (alimentos, no caso dos heterotróficos, e luz solar, no caso dos autotróficos) necessária para suas atividades e para manter sua organização, mas no balanço final o universo continua tendendo à desordem.
Mas, afinal, o que é vida? É uma pergunta difícil. Para entendê-la integralmente e
B I O L O G I A
é vida? assumir criticamente as conseqüências de qualquer de suas possíveis respostas,