Two lives, one story
1966, um período em que tudo ainda era proibido, aonde se trocava o certo pelo errado e o errado pelo certo.
O céu estava fechado, parecia que ia chover. Eu estava sentada no chão, estudando, quando senti um odor forte de bebida. Vi-o se aproximar, me espremi contra a parede. Meu padrasto disse com a voz embargada e levemente alterada:
− Cadê sua mãe?
− Não sei. Disse acanhada.
− Cadê a sua mãe? Repetiu ele em um tom mais alto.
− Não sei. Repeti, só que mais baixo.
− Vou lhe ensinar a me respeitar. . . Ele disse com a voz cheia de ódio e se aproximando de mim, abrindo o cinto da calça. Comecei a me assustar. Quanto mais ele se aproximava, mais eu sentia repulsa por aquele cheiro. Fechei os olhos, queria pensar que aquilo era um pesadelo, não estava acontecendo, até que senti a minha roupinha ser rasgada, permaneci com os olhos fechados, pedindo a Deus para morrer. Percebi um peso em cima do meu corpo frágil, parecia que meus ossos iriam se quebrar, fechei meus punhos e com toda a força que eu tinha, esmurrei-o no rosto. Ele me olhou com uma cara de deboche e começou a rir de mim:
− Vou lhe mostrar como se bate, “filhinha”. Ele desferiu um tapa em meu rosto. Ao mesmo tempo senti algo me penetrar, parecia a morte. Meus órgãos estavam sendo dilacerados, sentia meu sangue escorrer. Passaram-se horas, ou minutos não sei, até ele se retirar de mim e sair sem me olhar.
Fiquei jogada no chão, não conseguia me mexer. Ouvi o barulho da porta se abrindo, fiquei com os olhos fechados até perceber alguém me tocar, com carinho, no rosto:
− O que acontece? Disse minha mãe com a voz embargada pelo choro.
Minha mãe já sabia o que havia ocorrido. * * * Os primeiros anos no IFLC (Internato Feminino Liceu Cuiabano) foram horríveis, mas agora . . . Está pior. Parecia que a madre superiora me odiava, não só a mim, nutria esse sentimento por todos, Eu não falava com ninguém, todas as meninas eram chatas, até que percebi