Trovadorismo
As cantigas trovadorescas, primeiras manifestações literárias portuguesas, surgem na Baixa Idade Média (séculos XII e XIII) e representam as primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica imposta pela Igreja em todo o período medieval. O modo de produção da Idade Média é o feudalismo, sistema social em que predominam grupos sociais fechados e impossibilitados de empreender mobilidade social. Nesse sistema, há uma profunda ligação de dependência de homem para homem, definida pela relação entre os senhores, proprietários da terra, e os servos, não-proprietários, mas presos a ela.
A sociedade feudal, era formada por três níveis distintos: o clero, a nobreza e o povo. Ao povo (servos), cabia trabalhar; à nobreza, defender a sociedade, e à Igreja, orar por ela. Os nobres, defensores militares, podiam ocupar escalões superiores nesta hierarquia feudal e vassálica. A eles era reservado o direito à propriedade e ao poder público. Com isso, criava-se, em cada região, uma hierarquia de instâncias autônomas. A estrutura social portuguesa dos séculos XI a XIV apresentavam os senhores como autoridade absoluta e só ao rei prestavam obediência, porque ele detinha os direitos de justiça suprema.
A organização social medieval é ratificada pelo espírito teocêntrico. A visão de Deus como ser absoluto e capaz de ditar as normas sociais, o comportamento individual e estabelecer o limite entre o bem e o mal, determina, também, toda uma concepção servil. De acordo com essa concepção, o homem nasce para obedecer ou seguir o caminho previamente determinado pelo Ser Absoluto. A ignorância científica que permeava a época impunha que se explicassem atos humanos por forças ocultas ou metafísicas. Não haveria teocentrismo sem existir o feudalismo. Não haveria o feudalismo sem existir o teocentrismo. Não haveria o nobre ocioso se não houvesse o trabalhador. Um está a serviço do outro.
É nessa sociedade, rigidamente hierarquizada, que se dá a produção da lírica