Tristes trópicos, 50 anos
Eduardo Luz*
Resumo Este artigo apresenta alguns temas desenvolvidos em Tristes trópicos, particularmente os de natureza literária e antropológica, que ganharam relevo ao longo dos cinqüenta anos que decorreram desde o seu lançamento. Palavras-chave: Tristes trópicos; Literatura e Antropologia; Estudos Brasileiros. Abstract This article presents some themes developed in Tristes tropiques, particularly the literary and anthropologic natured ones, that gained importance throughout the fifty years that have passed since its launch. Keywords: Tristes tropiques; Literature and Anthropology; Brazilian Studies.
Há 50 anos, em Paris, foi lançado Tristes trópicos, do belga Claude Lévi-Strauss. Esta que veio a tornar-se uma das obras mais importantes do século XX é, ao mesmo tempo, um documento antropológico e um monumento literário: trata-se de uma obra inclassificável, do ponto de vista do gênero. Clifford Geertz, um dos mais prestigiosos antropólogos culturais do mundo, chama-o de livro anômalo (Geertz: 2002, p. 35), de caráter literário e auto-referencial. O brasileiro Roberto DaMatta, em seu estudo Edgar Allan Poe, o bricoleur: um exercício de análise simbólica, considera Tristes trópicos uma excelente introdução à antropologia estrutural. François Laplantine, antropólogo francês que pesquisa o Brasil, afirma que essa obra de Lévi-Strauss é a culminância do romance etnológico (Laplantine: 2000, p. 177). Essa dificuldade de enquadramento da obra pelos estudiosos reflete a pluralidade de campos explorados por LéviStrauss: segundo Geertz, trata-se de uma narrativa de via-
gem e de um tratado reformista; um texto filosófico e uma obra literária simbolista; é enfim, e apesar de tudo, uma etnografia. Esse livro fundamental, no entanto, tem para nós, brasileiros, uma significação especial: ele fixa a experiência do jovem etnólogo no Brasil dos anos 30, destacando seu contato com grupos indígenas. Sobre isso falaremos mais detalhadamente.