Trecho do conto tocaia
Morena de braços cruzados, séria, que tinha seus olhos em uma estrada de terra que dava voltas em dois morros, no rumo de onde o sol se deitava. De cara fechada, pelo atraso do pai que até então não foi avistado na estada, recebia ela os fracos raios do sol, capazes de tingir de laranja tanto o saião branco e a blusa clara dela, quanto às paredes pintadas de cal.
Justamente por ela era que ele, o pai, não se permitia atrasar na volta. Abandonava o que estivesse produzindo na fazenda e vinha, para cuidar da mocinha, para os carinhos dela de filha. Todos lá da fazenda já sabiam dos ritos que eles mantinham.
Comumente com o sol ainda alto ele despedia-se de quem o acompanhasse no serviço e tomava a estradinha por entre morros. Na segunda curva que ela fazia, ele avistava a casinha ou o embaçar dela, já que seus olhos, para longe, não prestavam mais. Ele vinha sério para fazer graça, e ela sorria. As palavras trocadas, enquanto ele subia os degraus até a porta eram quase sempre as mesmas, “Cansado?” por ela e o velho “Menos que você”, às vezes. Tomava-a pela cintura e ela o laçava o pescoço com o braço, para assim ajudá-la a entrar. Na cozinha havia sempre um café acompanhado de qualquer coisa.
Ajudava a ela. Sim, ela moça precisava da ajuda dele, velho. O motivo estava em que ela tinha, na perna esquerda, alguns dos tendões mal ligados. Problema adquirido com ela ainda menina, com o correr do tempo. “Má formação” diagnosticava os médicos da Santa Casa, e completavam muitos deles “Talvez melhore se ela operar, mas aí, senhor, só na capital e no particular”. “Como, senhor? Não tem como, não tenho bolso pra isso” era a