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Zahar, Rio, 1984]
CAPITULO VIII
O INCONSCIENTE
Chegamos finalmente àquele quer é apontado como o conceito fundamental da psicanálise. Em seu Vocabulário da psicanálise, Laplanche e Pontalis afirmam que, "se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente a de inconsciente". Creio que a quase-totalidade dos teóricos em psicanálise concordaria com esta afirmação, embora nem todos concordem quanto à significação, a extensão e os limites daquilo que entendem por inconsciente.
O texto freudiano possibilita a produção de discursos bastante estranhos uns aos outros, e uma afirmação como a de Lacan, segundo a qual "o inconsciente está estruturado como uma linguagem", soa como uma frase dita em língua estrangeira. Para muitos, a língua francesa é particularmente "estrangeira", demasiadamente literária e deliberadamente confusa com suas "cadeia do significante", "instância da letra" e "processos metafórico e metonímico". A estranheza aumenta quando um Lacan afirma que nada mais está fazendo do que "reler Freud". E os teóricos fiéis a Freud correm ao texto do mestre e não conseguem encontrar esses bizarros personagens cantados em prosa e verso pelos lacanianos. Estes, por sua vez, parece que se comprazem em responder com uma "cadeia significante" que mais enfurece do que esclarece os atônitos fiéis que escancaram a esses olhos estrangeiros suas Gesammelte Werke e suas Standard Editions. Exoterismo positivista ou esoterismo lacaniano?
Não creio que a questão deva ser colocada nesses termos. Com Althusser, aprendemos que ler não é reproduzir especularmente um texto mas sim produzir a partir dele um discurso, isto é, em produzir, a partir da letra do texto, um discurso do texto. Ninguém lê o que está escrito. A diferença está em que alguns sabem disso. Freud, sobre todos, o sabia. Tanto que, partindo do texto manifesto – do sonho do sintoma, do ato falho -,