Transsexualidade: géneros aprisionados em corpos sociais
Curso de Pós Graduação em Políticas de Igualdade e Inclusão
SEXUALIDADES…DIVERSIDADES E (DES)IGUALDADES
Transsexualidade: Géneros aprisionados em corpos sociais
CRISTINA COSTA
Introdução
Neste trabalho iremos abordar a construção do “género” e da “sexualidade “como produtos sociais e como categorias relevantes na análise de “outras” sexualidades, particularmente a transsexualidade, vistas como contra normativas pelas construções socioculturais que assentes em alicerces normativos regeram, ao longo dos tempos, as relações sociais, afectivas e sexuais corroborando o dimorfismo entre géneros. Parece-nos, assim, poder afirmar, à luz da teoria construtivista, que o dimorfismo entre géneros não é o resultado de uma determinação genética do sexo mas produto de uma construção. Assim, a nossa reflexão recairá sobre a transsexualidade, como caso paradigmático que expõe os processos sociais de dicotomização e de estruturação na organização do género da sexualidade e na organização social da identidade sexual.
A sexualidade socialmente construída
A história da sexualidade, segundo Foucault (1976), é a história da produção de um discurso particular em torno do corpo e dos seus prazeres. Em suma, é a história de um saber. Pode-se, assim, dizer que a história do “saber” moderno sobre a sexualidade e sobre o género é uma história de tentativas de dar um entendimento e uma interpretação a um particular papel e significado que assumem os corpos, os seus desejos e prazeres na vida social. O paradigma vigente na origem deste saber explica a sexualidade a partir da natureza biológica dos corpos sexuados e dos seus desejos, oferecendo ao mesmo tempo uma articulada explicação das perversões que se desviam da norma. Neste paradigma desenvolve-se o conceito de “identidade sexual” e “orientação sexual” como particulares “essências” que constituem necessariamente a identidade de cada um, sendo reconhecidas de acordo com o sexo biológico e com