Transamazônica
O presidente Emílio Garrastazu Médici, o terceiro a dirigir o Brasil durante a ditadura militar, voava de Manaus a Recife num avião da Força Aérea Brasileira, em seu primeiro ano de governo, 1969, quando a aeronave sobrevoou uma extensa área completamente retorcida pela seca. Obcecado com a ideia de integração nacional e querendo projetar para o exterior uma imagem grandiosa do país, o presidente olhou pela janela, virou-se para seu ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, que o acompanhava no voo, e afirmou: “Quero abrir uma estrada que leve os homens sem terra para a terra sem homens”. Médici se referia ao excesso populacional do Nordeste, na época estimado em cerca de 5 milhões de pessoas, e aos baixos índices de ocupação da Amazônia, considerada o “deserto molhado brasileiro”.
Com dinheiro em caixa e vontade política, as obras foram iniciadas sem preocupações com questões técnicas e estudos detalhados sobre seu impacto ambiental e social. Máquinas pesadas foram transportadas para a selva, içadas por helicópteros, em operações dignas de filmes de ação. De um dia para o outro, centenas de engenheiros e milhares de operários desembarcaram na mata.
O objetivo do governo era estimular a migração do homem nordestino para a Amazônia, a fim de ocupá-la e nela produzir riquezas, freando dessa forma a emigração para o sul do Brasil. Realmente na época, a densidade demográfica na Amazônia era baixíssima, numa região formada por uma floresta por excelência, cortada por rios caudalosos e de clima super úmido, com chuvas predominado boa parte do ano. O homem era praticamente ausente, numa área de mais de 3.550.000 quilômetros quadrados, quase a metade dos Estados Unidos, com menos de 1 habitante por km 2. Na época não se pensava nos impactos ambientais e sociais que essa obra poderiam causar ao ecossistema amazônico.
A péssima conservação da estrada – que só seria asfaltada em cerca de 10% de sua extensão – também contribuiu para isolar eternamente