Trans-História
O presente projeto emerge de pesquisas realizadas acerca das “histórias” referentes à saúde, o nascimento da medicina social, nascimento dos hospitais, entre outras instituições que, através de produção de saberes e disputa pelo poder marcam espaços (e tempos) com seus formatos disciplinadores. Assim, a higiene se insinua como onda avassaladora que controla e normaliza a condução das vivencias dos indivíduos das emergentes cidades.
Digo “histórias” pelas várias fontes encontradas e estudadas, as quais transbordam os olhares de seus relatores. Tendo, certamente, abandonado aquelas que se apresentam lineares, relatando fatos sobrepostos de leituras insensíveis - e não descarto com intenção de buscar por uma tendência ou posição micro e macropolítica -, construo minha crítica através de fatos que se convergem, pois história se produz em rede, na transversalidade que faz dos fatos malhas infindas de produção de vida.
É válido salientar a importância desse entrecruzamento de acontecimentos, já que trato, aqui, de pensar a medicina como produtora de espaços, de povo, de classes, de vestimentas, de saúde, etc. Uma fábrica transdisciplinar de pessoas e espaços, que nem sempre se mostram como promoção de saúde, mas com caráter aprisionador, de controle e imposição de uma vida para consumir – para além de material, no sentido mais amplo da palavra.
Proponho então, hibridizar em meu texto histórias e crônicas como numa tentativa de fazer-real e tornar menos rígidas as linhas de produção que não permitem enxergar quão profunda e intensa é a capacidade do mundo de metamorfosear-se, ou seja, de fazer história com que esse universo coletivo se apresenta.
(TRANS)HISTORICIDADE
Naquele chão de terra, chão poroso, com paredes escassas, poucas pessoas caminhavam. Era marcado pelas patas dos cavalos, que depois apagadas pela chuva, riscado pelas rodas das carroças, e lá, naquele chão, um povo vivia trancafiado em suas casas.
O