Tradução- Lógica da Sensação, Gilles Deleuze.
Gilles Deleuze (1981). Francis Bacon: lógica da sensação
Prólogo
Cada uma das rubricas que se seguem considera um aspecto dos quadros de Bacon em uma ordem que vai do mais simples ao mais complexo. Mas esta ordem é relativa e só é válida sob uma lógica geral da sensação.
De fato todos os aspéctos coexistem. Eles convergem na cor, em uma “sensação colorante”, que é auge desta lógica. Cada um dos aspectos pode servir de tema para uma seqüência particular na história da pintura.
Os quadros citados aparecem progressivamente. São reproduzidos e designados por um número que remete a sua reprodução em um segundo tomo deste livro. Agradecemos a
Senhorita Valérie Beston, da galeria Marlborough, pela ajuda preciosa a qual nos foi prestada. I – O redondo, a pista
Um redondo delimita seguidamente o lugar onde está sentado o personagem, esta é a
Figura. Sentado, deitado, inclinado ou outra coisa. Este redondo, ou este oval, toma mais ou menos lugar: ele pode transbordar as laterais do quadro, estar no centro de um tríptico, etc… Quase sempre ele é redobrado, ou ainda substituído, pelo redondo da cadeira onde o personagem está sentado, pelo oval da cama onde o personagem está deitado. Ele se espalha pelas pastilhas que cercam uma parte do corpo do personagem, ou no círculo giratório que envolve o corpo. Mas mesmo os dois camponeses só formam uma Figura com relação a uma terra arrebatada, estreitamente contida no oval em um pote.
Resumindo, o quadro comporta uma pista, uma espécie de circo como lugar. É um procedimento muito simples que consiste em isolar a Figura. Existem outros procedimentos de isolamento: colocar a Figura em um cubo, ou antes em um paralelepípedo de vidro ou gelo; fazê-la colar sobre um raio, sobre uma barra estirada, como que sobre um arco magnético de um círculo