Tradução Feminista
TRADUÇÕES FEMINISTAS
Tornar o feminino visível na língua significa fazer com que as mulheres sejam vistas e ouvidas no mundo real. E o feminismo é isso.
Susanne de Lotbinière-Harwood
A literatura acadêmica que trata da relação entre gênero e linguagem tem se ampliado nas últimas décadas. Desde o final da década de 1960 – momento em
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que se inaugura a chamada “era do feminismo” – não só os estudiosos da linguagem, mas também de várias outras áreas do conhecimento como a psicologia e a literatura, por exemplo, passaram a ter um interesse cada vez maior nos estudos sobre gênero, principalmente nos Estados Unidos e no Canadá. A característica interdisciplinar dos estudos sobre gênero está também presente nos estudos da tradução. Neste capítulo, farei uma breve reflexão articulando os dois campos, consciente de que não será fácil resumir em poucas páginas as questões mais pertinentes.
Devido a seu caráter político muito evidente e à referência deliberada a termos como “subversão” e “manipulação” da tradução, a tradução feminista é um tópico que me intrigou assim que tive acesso aos primeiros textos sobre o assunto, a saber, os de Marie-France Dépêche (2002) e de Luise Von Flotow (1991).
Decidi estudá-lo mais a fundo por acreditar que a atividade que as feministas chamavam de “tradução” talvez devesse se enquadrar em outro tipo de reescrita, em razão de seu caráter altamente transformador e produtor de novos significados.
Logo de início tive uma preocupação: será que os leitores dessas traduções estão cientes de tamanha transformação? Confesso, minha primeira impressão foi preconceituosa e o incômodo gerado pelo preconceito me motivou a pesquisar.
À medida que fui lendo os textos que descrevem essa atividade, a maior parte deles escritos por mulheres feministas, percebi que o contexto em que se desenvolve tal atividade tradutória feminista é bastante amplo: ela pode ser considerada como um