Tradução do quinto capítulo de Dom Quixote da Mancha
Pensativo ia Dom Quixote pelo caminho, ofendido com a piada de mau gosto que haviam feito os encantadores, se reportando a sua senhora Dulcinéia, figura pobre na aldeia. Com medo Sancho disse:
- Senhor, as tristezas não foram feitas para os animais, mas sim, para os homens, mas se os homens as sentem demasiado, se tornam animais, senhor, tome juízo e volte em si. Enquanto caminhavam, ia subindo seu ânimo, até que exclamou: - Aqui estou com meu ânimo para enfrentar até mesmo o Satanás em pessoa. Nisso, chegou um carro com bandeiras, no qual havia um cocheiro e um homem na dianteira. Dom Quixote se pôs na frente e disse: - Aonde vão, irmãos? Que carro é este e que bandeiras são estas? O cocheiro respondeu: - O carro é meu, o que tem nele são dois bravos leões enjaulados, que o general de Orán envia para a corte, para sua majestade; as bandeiras são do rei, em sinal que aqui, vai coisa sua. - E são grandes os leões? – perguntou Dom Quixote. - Tão grandes, que não tem se visto maiores da África à Espanha jamais. Vão esfomeados porque hoje não comeram e temos que chegar logo onde lhes damos de comer. Naquilo, Dom Quixote respondeu:
- Leãozinhos a mim? Desça bom homem, abra essa jaula e chame essas feras, que lhes farei conhecer quem é Dom Quixote da Mancha.
Como o cocheiro resistiu, prosseguiu:
- Se não abrirá as jaulas, com esta lança irei feri-los e destruir a carruagem.
Já chorava Sancho a morte de seu senhor, que aquela vez, sem dúvida, acreditava que esta chegava das garras dos leões.
Dom Quixote pulou do cavalo, desembainhou a espada e colocou-se diante do carro, pedindo a Deus e a sua senhora Dulcinéia.
Aberta a jaula, apareceu o leão de grandeza extraordinária, abriu a boca, bocejou muito devagar, olhou por toda parte com os olhos cheios de brasas, para colocar espanto a mesma temeridade.
Chegou ao extremo de sua loucura jamais vista.
Mas o generoso leão, mais prudente que