Tradicao escrita
Este é o mar onde os barcos viajam, os peixes moram, os golfinhos saltam, as baleias lançam repuxos, as crianças nadam, os jardins são de coral e sabem a sal.
Este é o mar que se esgota em esgoto, se lixa em lixo, o das marés negras, das redes de arrasto, dos rastos de sangue, dos cemitérios nucleares, dos muitos azares.
Este é o mar.
Quem é que entende a canção das ondas?
Fonte: Luísa Ducla Soares, O Mar
O Búzio
Dizem que o buzio nos traz
Ao ouvido o som do mar.
Mas eu acho que é mentira:
Seencosto o búzio ao ouvido
Só ouço ondas do mar.
Ondas do ar me trazem
Forte cheiro a maresia.
Mas eu acho que é mentira:
O mar não vive nas nuvens,
Nunca em nuvens viveria.
Choram as nuvens no ar
Se acaso a chuva acontece.
Mas eu acho que é mentira:
Se encosto o buzio ao ouvido,
Ouvir o mar me parece.
Fonte: Maria Alberta Menéres, Conversas com versos
A gotinha de Água
Eu sou a Menina
Gotinha de Água,
Gotinha azul do mar,
Que foi nuvem no ar,
Chuva
abençoada,
Fonte
a cantar,
Ribeiro
a saltar,
Rio
a correr, e que volta à sua casa no mar
Onde vai
Descansar
Dormir e sonhar
Antes que de novo
Torne a ser
Nuvem no ar,
Chuva
abençoada,
Fonte
a cantar,
Ribeiro
a saltar,
Rio
a correr
E mar
Uma vez mais
Fonte: Papiniano Carlos, A Menina Gotinha de Água
A Menina do Mar
Era uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas. Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos.
Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com barulho de palmas. Mas na maré vazia as rochas apareciam cobertas de limo, de búzios, de anémonas, de lapas, de