Trabalhos
Quando um ser humano nasce, uma novidade vem ao mundo. Nunca ninguém antes de nós, nem depois de nós, será igual a nós. O mistério da humanidade é sua singularidade. Esta singularidade, porém, não vem pronta, mas é construída ao longo de toda a vida. Quem sou eu e qual o sentido da vida, são as duas questões que começam no berço e carregamos como interrogação e tarefa até a hora da nossa morte. A pessoa que seremos vai se desenvolvendo lentamente. Os atos e as palavras, ou seja, os modos por meio dos quais enfrentamos os eventos da vida, vão moldando nossa identidade. Que sempre depende de como enfrentamos a vida. Mas não somos lançados no jogo da vida de mãos vazias nem totalmente em aberto. Nossa primeira identidade nos é dada pelos outros. Quando alguém vem ao mundo, geralmente nasce no seio de uma família, de quem recebe nome e sobrenome, uma situação financeira, um país, um bairro, uma tradição cultural e religiosa… Recebe, também, as expectativas que os outros (principalmente seus pais) têm a seu respeito, além das esperanças, dos medos, das incapacidades, dos problemas… que os próprios familiares mais próximos vivenciam. Nossa primeira identidade nunca nos abandona. Ela é nossa origem, o ponto e as condições com que começamos nossa vida, a primeira sinalização do nosso destino. É onde e como começamos a nos reconhecer, a formar nossa biografia e a nos tornar o personagem que somos. As circunstâncias e situações da vida cotidiana, o modo como as pessoas tratam uma criança, os afetos, o tempo, a atenção que lhe dedicam, entre outros, são revelações tácitas (mesmo que totalmente inconscientes para os adultos) sobre sua identidade, sobre o que ela deve fazer e querer, se ela é importante ou uma presença supérflua no mundo. Também as maneiras como os adultos, próximos à criança, vivem a vida são revelações sobre seu próprio ser. Assim como nossa primeira identidade nos é dada, também as