Trabalhos
David J. Chalmers
Universidade do Arizona
1. Cérebros numa cuba
O filme Matrix apresenta-nos uma versão de uma velha fábula filosófica: um cérebro numa cuba. Um cérebro sem corpo flutua numa cuba que por sua vez está no laboratório de um cientista. O cientista encontrou maneira do cérebro ser estimulado com o mesmo tipo de inputs que um cérebro normal costuma receber quando está num corpo. Para se conseguir isto, o cérebro na cuba está ligado a uma gigante simulação do mundo. A simulação determina então quais são os inputs que o cérebro recebe. Por sua vez, quando o cérebro produz outputs estes são enviados para a simulação. O estado de funcionamento deste cérebro é igual ao de um cérebro normal, apesar de não estar num corpo. Da perspectiva deste cérebro as coisas são muito semelhantes àquilo que parecem a mim e a si.
Mas parece que este cérebro está completamente enganado. Parece que tem crenças falsas sobre tudo. Acredita que tem um corpo, quando afinal não tem. Acredita que está lá fora ao Sol, quando afinal está num laboratório escuro. Acredita que está num determinado sítio, quando, de facto, pode estar noutro completamente diferente. Talvez pense que está em Tucson, quando afinal está na Austrália ou mesmo no espaço sideral.
A situação do Neo no início do filme Matrix é similar a esta. Ele pensa que vive numa determinada cidade, pensa que tem cabelo, pensa que vive em 1999, e pensa também que está Sol lá fora. Mas, na realidade, flutua no espaço, não tem cabelo, o ano em que está é aproximadamente 2199, e o seu mundo foi arrasado pela guerra. Há contudo algumas diferenças entre este cenário do Neo e o do cérebro numa cuba exposto inicialmente: o cérebro do Neo está de facto num corpo, e a simulação é controlada por máquinas e não por um cientista. Mas os detalhes essenciais são bastante idênticos em ambos os casos. Efectivamente, Neo é um cérebro numa cuba.
Vamos supor que uma matrix (com "m" minúsculo) é um certo