Trabalhos
Vieira da Silva
Atenta antena
Athena
De olhos de coruja
Na obscura noite lúcida
19941
O poeta mostra, através do processo artístico de Maria Helena Vieira da Silva, que o artista tem “olhos de coruja” para interrogar e descobrir o essencial e o simples na vida, “obscura noite lúcida”, trazendo esse fenômeno para a obra. Sua atenção encontra o segredo e a clareza do mundo, sendo a imagem de Athena, a cidade ecumênica, formada por diferentes nações e aberta a culturas variadas. O artista é uma “antena” que capta, decifra e revela a dualidade da vida por múltiplas formas, onde vemos a
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multiplicidade de seu ofício.
Neste segundo capítulo, analisaremos quatro modos de Sophia Andresen mostrar o ofício do poeta e sua participação política: crítico do “tempo dividido”, visionário da poesia-vida, cantor do acordo universal e anunciador de um projeto poético e político.
Para isso, analisaremos poemas dos seus cinco primeiros livros, Poesia, Dia do mar,
Coral, No tempo dividido e Mar novo, nos quais a idéia sobre a missão do artista já está construída. 3.1. Crítico do “tempo dividido”
A bela e pura palavra Poesia
Tanto pelos caminhos se arrastou
Que alta noite a encontrei perdida
Num bordel onde um morto a assassinou. 2
Sabemos que, na obra andreseniana, a poesia é o logos, pois liga o pensamento ao gesto, ligação esta em que o homem reconhece a si mesmo e as coisas. No entanto, no tempo e lugar da divisão, a insensibilidade do homem o torna agressor da arte, pois dela cobra a utilidade que ele atribui a tudo com que se relaciona, porque seu modo de viver o impede de discernir seus atos. O automatismo o brutaliza e assim ele passa a se
1
2
ANDRESEN, S. M. B. Musa. 2004. p. 37.
Id., Mar novo, 2003, p. 20.
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relacionar com as coisas. Isto gera, no poeta, a sensação de que não há como mostrar ao homem a poesia, o logos, o acordo universal.
Por isso,