trabalhos
A Raul Pompéia, o mais original e correto escritor brasileiro de seu tempo.
CAPÍTULO I
- Ora, sempre vamos ao Rio de Janeiro, ao grande e espetaculoso Rio de Janeiro! - exclamou Evaristo, pousando o chapéu, com ar de triunfo. - É como lá diz o outro: - quem espera... Eu nunca me enganei com o Luís... nunca!
Saíam-lhe em jorro as palavras, num tom quente de vitória, de aclamação, de regozijo.
Adelaide não o compreendeu logo, e, sem o compreender, exultava diante da intempestiva alegria do marido, com os olhos nele, ansiosa.
- Que é, homem de Deus, que foi... Que mistério!
- Nada, filha, nada; estamos aqui, estamos no Rio de Janeiro - ouviste? - no grandioso Rio de Janeiro!
Ela sorriu com um muxoxo:
- Brincadeira!
- Brincadeira? Telegrama do Luís Furtado. Um emprego no Banco Industrial...
- Que é do telegrama? - perguntou Adelaide, arredando o cabelo dos olhos e com o mesmo sorriso de incredulidade.
- Cá está, no bolsinho; recebi quando menos esperava.
E, desdobrando o papel:
- 'Emprego Banco Industrial garantido. Venha. - Luís."
Foram entrando ambos para a sala de jantar - Evaristo um pouco apressado.
- Tu não imaginas - ia ele dizendo, sem se voltar para a mulher -, tu não imaginas como estou alegre! No Rio de Janeiro a coisa é outra! Um homem adquire relações, ganha fama e, quando pensa, tem sua economiazinha... Quem vai ao Rio, ipso facto, vai à Europa. Ora, digam lá para que me tem servido a carta de bacharel? Para nada, para coisíssima alguma! Bacharel em província é objeto de luxo e eu estou farto de misérias!
Adelaide, meio triste, perguntou-lhe se queria jantar.
- Por que não? Imediatamente. Hoje é?...
- Terça.
- Domingo há vapor e eu tenho muito que fazer. Hoje mesmo, acabando daqui, vou telegrafar ao Luís. Manda botar a sopa.
- Jesus, que sofreguidão, Evaristo! Ao menos tira o paletó.
- Qual paletó! ~ daqui para o Telégrafo e amanhã, se Deus quiser, os jornais dão noticia da minha ida ao Rio. Um emprego no Banco Industrial