Trabalho
Seg, 22 de Julho de 2013 15:35
Carlos Alberto Faraco Não há exagero em dizer que o maior acontecimento dos tempos modernos na área dos estudos das línguas foi a descoberta de que elas têm história. São realidades dinâmicas, que mudam continuamente no tempo, e têm, portanto, um passado. Essa descoberta mudou substancialmente a nossa compreensão do fenômeno linguístico. Mas teve também efeitos amplos sobre toda a compreensão que a Europa tinha de sua própria cultura.
A ideia de que as línguas são realidades com história não era totalmente nova. De certa forma, ela estava na tese monogênica, sustentada numa certa leitura do texto bíblico, de que todas as línguas derivariam do hebraico, tese que foi comum na Renascença. E estava também na percepção explicitada por Dante no começo do século XIV de que as línguas latinas tinham todas uma origem comum.
No entanto, ela vai se formular com consistência e efetiva demonstração empírica apenas no final do século XVIII. A expansão colonial da Inglaterra havia incorporado a Índia a seus domínios. O contato íntimo com a riqueza da cultura hindu fascinou profundamente os ingleses. Um grupo de administradores coloniais fundou, então, em 1784, a Sociedade Asiática de Calcutá, que tinha como objetivo principal traduzir os monumentos literários da Índia setentrional. Essas traduções serviram de veículo para a divulgação do sânscrito, a língua hindu clássica, e de sua literatura na Europa.
Um dos membros dessa Sociedade, o juiz William Jones (1746-1794), estudando a fundo o sânscrito, percebeu inúmeras semelhanças do sânscrito com o grego e o latim – as línguas clássicas da Europa. Tendo em conta essas semelhanças, claramente visíveis seja nas raízes verbais, seja nas formas gramaticais, Jones apresentou, em 1786, uma comunicação à Sociedade Asiática, argumentando que elas eram de tal monta que seria impossível atribuí-las ao acaso. Era preciso considerar que essas línguas tinham uma origem comum