Trabalho
Fundamentos de Filosofia de Manuel Garcia Morente
Lições Preliminares temporal nem causal.
O não-ser dos valores.
Terminávamos a lição anterior anunciando que na atual íamos nos ocupar de outra esfera ontológica, que já assinalávamos na primeira destas lições sobre ontologia, e que é a esfera dos valores. Constatáramos que na nossa vida há coisas reais, há objetos ideais e há também valores. Pois bem; em que sentido há tudo isto? Em que sentido há coisas reais, objetos ideais e valores? Há em minha vida, em nossa vida, as coisas reais e objetos ideais no sentido de ser. Agora, porém, devemos perguntar-nos em que sentido há valores em nossa vida.
Se retornamos à consideração existencial primária que nos serviu de ponto de partida, ou seja nós vivendo, verificamos que as coisas de que se compõe o mundo, no qual estamos, não são indiferentes, antes essas coisas têm todas elas um acento peculiar que as faz. ser melhores ou piores, boas ou más, belas ou feias, santas ou, profanas. Por conseguinte, o mundo no qual estamos não é indiferente. A nãoindiferença do mundo e de cada uma das coisas que constituem o mundo em que consiste? Consiste em que não há coisa alguma diante da qual não adotemos uma posição positiva ou negativa, uma posição de preferência. Por conseguinte, objetivamente visto, visto do lado do objeto, não há coisa alguma que não tenha um valor. Umas serão boas, outras más, umas úteis, outras prejudiciais; porém nenhuma absolutamente indiferente.
Pois bem; quando de uma coisa enunciamos que é boa, má, bela, feia, santa ou profana, que é que enunciamos dela? A filosofia atual emprega muitas vezes a distinção entre juízos de existência e juízos de valor; é esta uma distinção freqüente na filosofia, e assim os juízos de existência serão aqueles juízos que enunciam de uma coisa aquilo que essa coisa é, enunciam propriedades, atributos, predicados dessa coisa, que