Trabalho
POLÍTICA & TRABALHO
Revista de Ciências Sociais
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n. 26 Abril de 2007 - p. 203-223
MERCADORES DA CIDADANIA:
LIMITES E DESVIOS DA RESPONSABILIDADE
SOCIAL CORPORATIVA
Isleide Arruda Fontenelle
Introdução
Há em curso, no Brasil, dois temas que têm povoado o cenário político, motivado programas de ação dos setores da sociedade civil e do mercado, e sido objeto constante do discurso midiático: os temas da responsabilidade social empresarial e da inclusão digital. No que diz respeito à responsabilidade social empresarial, especialmente no que toca ao âmbito de questões sociais nacionais a serem incorporadas como parte das atividades “cidadãs” do mundo empresarial1, o tema entrou na agenda brasileira a partir da década de 1990 em meio ao processo de abertura da economia para o capital internacional e a privatização de empresas estatais de setores estratégicos, que se intensificou em meados da mesma década. E isso não se deu por acaso: a explosão de organizações não governamentais (ONGs) e de fundações empresariais, nesse período, está diretamente relacionada à implantação de um novo modelo de política econômica baseada na idéia de um enfraquecimento do Estado no que tange às questões sociais e da emergência de novos atores - sociedade civil e mercado – na coresponsabilização quanto à definição de uma “agenda” para essas questões sociais.
Tendo em comum o fato de “prestarem serviços sociais a indivíduos e grupos em situação de vulnerabilidade econômica e/ou social, assumindo finalidades públicas no país e no mundo” (Yazbeck, 2002, p. 174), as mais diversas
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São muitos os termos associados ao investimento social das empresas, tais como: filantropia, “que significa amor ao homem ou à humanidade, pressupondo uma ação altruísta e desprendida...”; cidadania empresarial, enquanto uma “relação de direitos e deveres entre empresas e seu âmbito de relações e como participação ativa das empresas na vida de suas cidades e