Trabalho
O autor do texto propõe um deslocamento da noção de consumo do senso comum, que o associa a “gastos inúteis” e “compulsões irracionais”, para uma reflexão que dê conta da sua complexidade como fenômeno que inclui relações de colaboração e transação entre pessoas. Mais do que exercícios de gostos, caprichos e compras irrefletidas, o consumo é definido por Canclini como um “conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos” (p. 53).
Nesse sentido, o consumo é interpretado como um momento do ciclo de produção e reprodução social, o que implica que não são os gostos ou necessidades individuais que definem o conteúdo, a forma e o sujeito do consumo, mas que o “sistema econômico
‘pensa’ como reproduzir a força de trabalho e aumentar a lucratividade dos produtos”
(p. 53). Contudo, a relação de consumo não é dada apenas pelos agentes econômicos, como propunham os estudos marxistas, mas enredada na interação entre produtores e consumidores, emissores e receptores.
Canclini adere à definição de Manuel Castells, que postula que o consumo é um âmbito de realização de distribuição e apropriação de bens que explicita e dá continuidade aos conflitos de classes, originados pela participação desigual na estrutura produtiva. Por esse motivo, consumir significa participar de um cenário de disputas em torno do que é produzido pela sociedade e de luta por distinção simbólica. O consumo, assim, assume importância política, articulando-se com a noção de cidadania em um universo em que o sentido dos bens é compartilhado. Por esse motivo, “no consumo se constrói parte da racionalidade integrativa e comunicativa de uma sociedade” (p.56).
Para Canclini, abordar o consumo sob essa ótica pode ajudar a responder a perguntas como “o desperdício do dinheiro no consumo popular é uma auto-sabotagem dos pobres?” A resposta é um vigoroso não: esses